Declaração de Propósito — Gabriela Barbosa Substack
Em seu livro "A Doença como Linguagem da Alma", Rudiger Dahlke comenta, logo na introdução, que as tribos primitivas "interpretavam" o adoecimento de uma maneira muito peculiar, e talvez ignorada em nosso tempo: no passado, a doença — física ou espiritual ou psíquica — era entendida, fundamentalmente, como uma oportunidade para o autodesenvolvimento.
O autor nos lembra de grandes homens e mulheres do passado — intelectuais, santos, inventores e artistas — que, não fossem seus sofrimentos, não teriam trilhado o caminho que os levou a tão maravilhosos feitos e a forjar tão extraordinárias personalidades.
Portanto, Dahlke argumenta que a doença pode ser entendida como, não necessariamente um desvio da boa rota ou como uma punição, porque isso implicaria uma culpabilização injustificada do doente; mas sim, como uma oportunidade para uma mudança de rota, uma reformulação do mapa de uma vida, que pode levar a um alargamento da consciência, à evolução pessoal e, com sorte, à felicidade possível neste mundo.
Richard Bucher, autor de quem recentemente me tornei grande admiradora, nos lembra em seu "A Psicoterapia pela Fala", que:
"(...) a doença surge como um impedimento existencial, e se apresenta como uma 'situação catastrófica', que não deixa de evocar a mortalidade."
Adoecer nos coloca numa posição de vulnerabilidade frente à existência, e por isso faz irromper na alma uma série de questionamentos:
Por que eu?
Por que essa doença?
O que eu fiz para merecer isso?
... reações esperadas para o primeiro confronto com uma ameaça à vida da forma que a conhecemos, essas frequentemente são perguntas passivas, talvez meramente retóricas, já que não há resposta que possa desvendar tamanho mistério.
Como diz Dr. Jordan Peterson, "Por que não eu?", é tão válida quanto.
Outras perguntas, entretanto, podem ser mais interessantes:
Como terei que modificar minha vida em função desse adoecimento?
Como devo lidar com o fato dessa doença?
Que virtudes posso desenvolver frente a esse sofrimento?
O que posso fazer, de verdade, para melhorar?
O que devo fazer?
(The Lord Of The Rings — Frodo toma a responsabilidade sobre o destino do anel)
Acredito que eu não precise argumentar, aqui, pelo fato de que existe uma crise de saúde mental, uma crise existencial global. Cada vez mais pessoas estão deprimidas, ansiosas, e em sofrimento.
Acredito também que existem grandes obstáculos, internos e externos, que têm impedido grande parte das pessoas que sofrem de encontrar soluções reais para os seus problemas e sofrimentos e irei, em algum momento, abordar esses obstáculos e tentar lançar luz sobre a questão, com o máximo de clareza que eu puder.
Por enquanto, voltemos ao objetivo deste texto.
Neste Substack, pretendo ajudar pessoas em sofrimento, com a minha experiência e com o meu olhar — às vezes esclarecendo questões, às vezes propondo exercícios práticos, às vezes tentando inspirar-lhes ao desenvolvimento pessoal.
Dahlke, na sequência da sua introdução, nos informa que:
"(...) Em muitas tribos, o candidato a xamã sofre sua doença de iniciação, único meio que pode introduzi-lo em novos campos de experiência.
Às vezes esse pensamento é seguido de maneira tão consequente que um curandeiro somente pode tratar aqueles sintomas que ele mesmo padeceu de corpo e alma. Essa postura é forçosa caso se entenda o curandeiro como sendo um guia de almas pelos mundos interiores, já que, afinal, um guia de viagens deveria conhecer de antemão o país através do qual guia os outros."
Tentarei assimilar e expressar aqui todo o meu conhecimento adquirido por experiência pessoal, pelos meus dez anos de estudos e quatro anos de prática em psicologia, com o objetivo de ajudar a transformar o sofrimento numa oportunidade, de instruir e criar caminhos possíveis para a cura e para o desenvolvimento daqueles que o queiram verdadeiramente.
"O que significa querer algo? Significa que você sacrifica o que quer que seja necessário para consegui-lo." (Jordan Peterson, em palestra, tradução livre).
Bem-vindo ao Gabriela Barbosa Substack!
REFERÊNCIAS
Dahlke, Rüdiger. A doença como linguagem da alma: os sintomas como oportunidades de desenvolvimento. São Paulo: Editora Cultrix, 1992.
Bucher, Richard. A Psicoterapia pela Fala. São Paulo: EPU, 1989.
The Lord Of The Rings — The Fellowship of The Ring (se você precisou checar as referências pra saber que filme é esse, já ganhou de brinde uma tarefa de casa).
A leitura deste me remeteu ao velho juiz Ivan Ilitch que, acometido de uma doença já em seu leito de morte, indaga-se acerca de tudo quanto fez em vida até àquela altura.
Também me recordei de uma frase formidável do Shostakovich: "When a man is in despair, it means that he still believes in something."
Ótimo texto, Gabriela!